terça-feira, 16 de agosto de 2022

CAMPANHA ELEITORAL COMEÇA E O FOCO NÃO É A PROPAGANDA


Todos os jornais noticiam que hoje foi dada a largada para a campanha eleitoral desse ano, que renovará, parte considerável do poder brasileiro. Em tese é um marco no calendário das eleições que refletirá poucas mudanças no dia a dia nosso, cidadãos. Para entender melhor esse argumento, vamos aos fatos.

Num passado muito recente, a propaganda e divulgação dos candidatos se dava na chamada forma tradicional, distribuindo-se santinhos, afixando-se outdoor, carros de som cantando os jingles, comícios, televisão e rádio, além de outros mecanismos usados para divulgar o nome do candidato.

Nos dois últimos pleitos as eleições migraram, quase em sua totalidade, para as redes sociais. E isso impede que se estabeleça um marco temporal para início da divulgação dos nomes. Inclusive pelo fato de que o calendário de campanha de apenas 45 dias, é pequeno, para convencer o eleitor a dar um voto ao candidato "A" ou "B". Esse convencimento, portanto, começou muito antes do início oficial da propaganda eleitoral.

Diante dessa constatação, analisando o cenário atual, temos que o foco da Justiça Eleitoral nem é mais o santinho sem a inserção dos dados necessários, fugindo à legalidade da divulgação integral daquele postulante. O foco hoje é a "despropaganda". É o fenômeno da construção de narrativas que fogem à realidade.

E ele se dá hoje de forma profissional. Há técnica e estudo sobre a disseminação de uma informação falsa, de uma fakenews. A narrativa é criada a partir de um fato existente, mas que tem a leitura de forma deturpada ou modificada, para que propague determinada informação enganosa.

Se existe o crime organizado, responsável pelo tráfico de drogas, existe hoje uma organização da preparação e disseminação da notícia falsa, que gosto de chamar de "despropaganda".

A disseminação, na verdade, é apenas a ponta do processo, que tem início com o estudo do cenário, análise de pesquisas e produção (implantação) de uma notícia falsa. Feito todo esse trabalho, aí sim, temos campo fértil para lançar a fakenews nas redes.

Integra esse processo a varredura de antigas manifestações de políticos, falas retiradas do contexto e até montagens. Mas não basta que esses trechos de vídeos, tuítes, postagens, sejam lançadas. Há um preparação, há um estudo prévio do cenário, tudo com enorme profissionalismo e zelo.

Se Collor foi eleito após longo trabalho de marketing, revolucionando a forma de comunicação (quem não lembra do famoso debate dele com Lula?), atualmente há políticos ocupando cargo graças à disseminação de informações falsas, que geram narrativas também inverídicas e elegem ou impedem a eleição do adversário.

A eleição de 2018 foi um marco na política brasileira. Ela foi a virada de chave, inserindo a "despropaganda" no rol dos feitos capazes de eleger alguém. 

Aliada desse crime eleitoral são as redes sociais, exatamente para onde migraram as campanhas desde então. Redes que tanto nos ajudam divulgando coisas positivas, como a vacinação da população, servem para destruir reputações e inserir dados falsos nos debates políticos.

A Justiça tem se debruçado no combate à disseminação, via redes sociais, dos informes criminosos. Mas ainda é longo o caminho a se percorrer. Redes fechadas como o Whatsapp, por exemplo, são capazes de espalhar propaganda falsa em reduzido tempo, fazendo circular uma mentira, em poucas horas, nos celulares de brasileiros do Acre ao Rio Grande do Sul.

A resposta a ser buscada nessa eleição é se os mecanismos desenvolvidos por parte da imprensa, por partidos políticos e canais da Justiça Eleitoral, serão suficientes para que os brasileiros não usem dados falsos para decidir o seu voto a ser depositado na urna eletrônica.

Terreno fértil para a disseminação de informações falsas é a reduzida consciência política de grande parte da população. Os brasileiros estão cansados de política e consomem o que lhes cai nas mãos (leia-se, celulares) já mastigado, sem necessidade de reflexão ou análise. 

Assim, o combate às "despropagandas" exigirá uma grande campanha de conscientização política, um trabalho que será duro nas escolas, igrejas, sindicatos, associações, clubes e onde houver gente disposta a ler, estudar e se aprofundar no estudo da sociedade brasileira e seus desdobramentos. Sem educação, sem estudo, sem conscientização política, sempre estaremos sujeitos a cair nas esparrelas de véspera de eleição.

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