segunda-feira, 13 de maio de 2019

VOCÊ TÁ PREPARADO PARA GANHAR A ELEIÇÃO?

Ano que vem tem eleições municipais. Me recordo aqui das palestras que fiz nas eleições desde o ano 2000, para prefeitos, vereadores e partidos políticos. Fui buscá-las e vi que praticamente 100% do que disse àquela época, mudou. Um único detalhe permanece desde 2000, o crescimento e a influência da internet nas eleições, advento que tomou força mesmo em 2004.

Ousei até estabelecer uma comparação.

Eleições 2000

Trabalhei na eleição para prefeito e vereador em Miracema, minha cidade. As redes sociais estavam em gestação, mas o e-mail já era usado. Todos estávamos na febre do BOL, o primeiro e-mail gratuito do Brasil. Note que era caro ter internet. Ela era de baixíssima velocidade e sequer se aventava a hipótese de abertura de um vídeo.

Não lembro de nenhum registro de uso de e-mail nas eleições. Mas o material já era preparado nos computadores. Principalmente os chamados santinhos. Mas a febre das trocas de e-mail viriam logo depois.

Nessa eleição o importante eram os comícios. Eles sim, fariam diferença no pleito eleitoral. Os shows com artistas definiram o último dia de campanha entre os postulantes. Nessa eleição, o vencedor das eleições em minha cidade usou fortemente os carros de som, com jingles conhecidos por todo o eleitorado.

Eleição de 2004

Em 2004 eu fiz uma campanha em Três Rios e entrei nesse universo das campanhas eleitorais, mergulhei, de cabeça, na campanha do ex-prefeito da cidade, Raleigh Ramalho (PTB). Naquela época surgia o ORKUT. No Brasil ele não era tão popular, mas os e-mails já foram usados no process eleitoral.

Lembro que nesse pleito, foi preponderante a presença dos caciques da política. Eles avalizavam os nomes que concorreriam nos municípios. Os comícios eram a principal forma de comunicação com eleitor, aliado ao rádios e televisões, que já contavam com propaganda mais elaborada e preparada.

O fac-símile ou fax, era a moda da época, mal comparado, era o Whatsapp da comunicação daquele ano. Revolucionário.

Nessa eleição eu fiz as primeiras incursões trabalhando em mais de uma eleição: acompanhei candidato em Miracema, Três Rios e Comendador Levy Gasparian, fora a representação legal de candidatos em várias cidades do Estado do Rio de Janeiro, junto ao TRE/RJ. Fui vitorioso em todas as ações. 

Eleições de 2008

Sem dúvida, essa foi a eleição das redes sociais mais fortes desde então. Realmente as redes começaram a ser usada profissionalmente pelos candidatos. Os candidatos começaram a criar suas contas e divulgar agenda de campanha, onde seriam os comícios e os planos de governo. Era algo bem mecanizado, geralmente feito por uma assessoria, já que o acesso às redes não era tão intenso como hoje. Não havia emoção se compararmos com o que viria.

O Facebook já começava a ser popular. Lembro que quatro anos depois (2012), a rede atingiu a marca de 1 bilhão de usuários.

Essa foi a eleição mais judicializada até então. Os candidatos começaram a "usar" a Justiça para tentar deter o seu adversário e inviabilizar sua candidatura. Os primeiros inelegíveis foram conhecidos nessa eleição, por meio das listas de políticos com contas rejeitadas pelo TCE.

Fiz 5 campanhas esse ano. O trabalho voltado para as redes já era intenso e significativo, talvez correspondesse a 10% do resultado do pleito. Variando para mais nas cidades com maior eleitorado. No interior ainda era muito tímido.

Eleição 2012

Palestra realizada em Miracema, ano de 2012, campanha do PMDB, candidato Ivany Samel

Sem dúvida o salto aqui foi muito grande. Como disse, 1 bilhão de cidadãos já usavam o Facebook, a rede social mais importante em se tratando de eleições. O alerta foi ligado para a maioria dos candidatos. De 10% de influência na eleição de 2008, as redes influíram 40% dos votos. Nessa eleição, os brasileiros já usavam as redes sociais como fonte de informação para suas decisões, inclusive escolhas de candidatos.

Importante que os candidatos que notaram isso, saíram na frente. Lembro que a mídia tradicional foi derrotada nas urnas em 2010, pois o candidato apontado pelos jornais como o melhor era José Serra e quem ganhou as eleições, contra o poderia midiático, foi Dilma, do PT. Resultado que foi preponderante para os marqueteiros trabalharem.

Creio que foi em 2012 que os especialistas em campanha chegaram no interior. Em 2008 só as grandes campanhas contrataram equipes de marketing. Falava-se à época na forma do marketing das eleições presidenciais e os marqueteiros viraram moda no interior. Eram eles que ditavam o que se faria nas redes e fora dela, desde a roupa do candidato até a escolha das palavras ditas em discursos.

Nessa eleição os comícios começaram a perder prestígio, o povo cansou de sair de casa e bater palma para o seu candidato. Se comparados com os comícios de 2004, mais pareciam reuniões de amigos num final de domingo. 
Palestra realizada no município de Varre-Sai, interior fluminense, eleições de 2012, candidato do PP, Everardo.

É nessa eleição, que pela primeira vez, senti o desgaste da classe política de forma tão forte, o que abriu campanha para o acesso, no próximo pleito, dos outsideres, candidatos que fogem do esteriótipo do candidato comum e tradicional. As regras de outrora perderam força. O apoio e a benção dos caciques não influencia mais os eleitores, que escolhe por simpatia ao candidato ou ao seu discurso.

Fiz 10 campanhas eleitorais em 2012, acho que nunca trabalhei tanto na vida. Mas valeu à pena, aprendi muito, principalmente executar muito com pouco tempo e nenhuma estrutura. A Justiça Eleitoral foi a vedete do pleito de 2012, também conseguimos muitas vitórias nos tribunais, apesar da correria e do acúmulo nas campanhas.

Palestra realizada no município de Italva, interior do Rio de Janeiro, campanha do candidato do PDT, Joelson.


Eleição de 2016

Dos 40% de influência no pleito de 2012, o pleito de 2016, o último, onde foram eleitos os atuais prefeitos e vereadores, sofreu a influência de 80% do eleitorado ou mais. As redes, perigosamente, passaram a ser a única fonte de informação dos eleitores. As campanhas forjadas por marqueteiros, nos moldes antigos, perderam força. E trabalho de análise de campo e observação e medição diárias, passaram a mudar cenários. A força das pesquisas telefônicas semanais passaram a ditar cada passo do candidato.

Nessa eleição a Justiça Eleitoral inovou muito. As campanhas deixaram de receber recursos financeiros de empresas e o tempo de campanha foi drasticamente reduzido. As doações do próprio candidato para a campanha passaram a decidir investimentos. Lembram do autofinanciamento de João Dória?
Campanha de 2012 em Paraíba do Sul, candidato Marcinho Abreu, concorrente pelo PP.


O curto espaço de tempo tirou muito do trabalho de marketing tradicional. Ele concentrou-se nas redes sociais, por isso, a percepção de que elas influíram 80% ou mais na decisão do eleitor. Assim, penso que são as experiências desse pleito e do pleito de 2018, que servirão de parâmetro para a preparação das eleições de 2020.

A campanha será ditada pela emoção dos candidatos e concorrentes nas redes sociais.

Então, se você é candidato, tem um trabalho de casa a fazer:

1) JURÍDICA - Buscar orientação jurídica para a campanha, muita gente fica de fora por falta de apoio profissional e especializado. O titular candidato a prefeito precisa saber o que pode e o que não pode nas campanhas, precisa orientar candidatos a vereador e dispor de apoio contínuo.

2) MARKETING - Ter orientação integral de um marqueteiro, desde hoje. Não tomar nenhum posicionamento sem a presença de um especialista ao seu lado. O marqueteiro vai trabalhar mídias sociais, posicionamento e estruturar a campanha.

3) ADMINISTRAÇÃO - Imprescindível um profissional que cuide de recursos financeiros, logísticas, arrecadação financeira e investimentos na campanha. Lembre que quanto menor a fonte (recursos), maior deve ser o controle.

Cuidado: eleições ganhas na internet não podem ser coisas do momento, tem que começar hoje. Não se forma um grupo nas redes da noite para o dia, o trabalho é lento, gradual e muito cauteloso.

E o alerta final: o resultado da eleição de 2020 terá influência 100% das redes sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário