domingo, 12 de agosto de 2018

Não quero falar de "política", nem de eleições!


Achei que nunca diria essa frase. Mas tenho me sentido desgostoso com os rumos do debate político nas eleições de 2018. Nasci numa cidade no interior do Rio de Janeiro e sempre participei de todos os debates políticos possíveis para um jovem com 15, depois 16, 17...até os 48 anos. Quando fiz parte do ensino básico na capital fluminense, não foi diferente. Aos 18, quando entrei na faculdade, imediatamente comecei a participar de movimentos políticos. Vivi boa parte do início do chamado processo democrático, com eleição direta para presidente. Sim. Eu vivi a época em que os presidentes não eram escolhidos por nós. Os deputados federais e senadores apontavam quem seria o mandatário do país.

A chamada campanha das "Diretas já", clamando por eleição, acompanhei de longe. Mas vivi cada emoção dos brasileiros que queriam votar, queriam escolher seus governantes. Erramos ao escolher Collor, a justificativa dada era de que nós não sabíamos votar. Na época, a Globo foi acusada de ter manipulado a edição do último debate entre Collor e Lula. Diziam que a emissora optou por eleger Collor.

O ex-presidente foi eleito com a esperança dos brasileiros de fim da corrupção, dos privilégios e da implantação da ordem no país. Collor elegeu-se com o lema "O caçador de marajás", com a promessa de extirpar privilégios e colocar em prática uma reconstrução nacional, que aliás, era o nome do seu partido político, o nanico PRN.

O país, até então governado por presidente eleitos indiretamente, o que ocorria desde o golpe militar de 1964, vivia sob alta inflação. Nosso dinheiro não tinha valor nenhum. Qualquer bem que se comprasse, custava milhões de cruzeiros. O valor de compra do salário, era desconhecido.

O vice de Collor, era Itamar Franco, que obteve êxito no controle da economia por meio do plano real, moeda que sobreviveu até hoje. O país então elegeu Fernando Henrique Cardoso, do novo PSDB, partido nascido de uma dissidência do PMDB. Novamente enchemos o peito de esperança.

Mas atolado em denúncias de que as privatizações tucanas foram fruto de corrupção, a esperança surgiu em Lula. Lembro com emoção da primeira eleição do petista. O povo acreditava nele. Todas os sonhos vinham daquele homem da região Nordeste, que falava com entusiasmo e propunha total ruptura com o modelo político do PSDB.

Lula foi eleito em sua terceira tentativa de chegar ao Planalto. Foi abraçado por todas as classes, especialmente os intelectuais, professores universitários, jovens, trabalhadores e artistas. Quanta esperança.

Um traço sempre foi comum na política brasileira: a cada eleição, renovamos as esperanças no governante que entrava. Ele era "o melhor". Até que a história revelasse que havíamos errado.

Eu não perdi a esperança. Acredito no Brasil, creio que superaremos tudo isso. Creio inclusive que o Brasil de hoje, mesmo mergulhado em grave crise, é muito melhor que o Brasil assumido por Collor, que era pior que o Brasil assumido por FHC, que era pior que o Brasil assumido por Lula...hoje temos muito mais capacidade de reação.

O que perdemos, o que há de diferente, é que a intolerância, que sempre existiu, está muito mais exasperada. Os ânimos estão muito mais à flor da pele. Ninguém discute, ninguém tem dúvidas, todos têm certezas que suas convicções são únicas e que são imutáveis. Não existe espaço para ninguém ceder. Nem um milímetro, que seja.

Chega a assustar quando se lê conceitos totalmente deturpados do que é direita e esquerda. A esquerda, para quem se julga de direita, é a personificação do próprio demônio. Desconstruiu-se os conceitos tanto de direita, quanto de esquerda. Mistura-se religião com personagens da história, classificando-os ao bel prazer de quem interpreta. Os conceitos de socialismo, comunismo, satanismo, corrupção, ditaduras, são todos tratados como se fossem sinônimos. E quem diz o contrário, quem tenta expor seus pensamentos, imediatamente é ofendido, agredido, sem que se ouça sequer os argumentos do outro, sob as ofensas e comparações mais rasas e disformes possíveis.

Não há qualquer tolerância ao debate. A dificuldade de interpretação do que se quer dizer, é enorme. E os julgamentos, como dito, sem direito a defesa, são sempre feitos com certezas muitas vezes tiradas de brevíssimas explicações nascidas de postagens nas redes sociais.

Se você diz que não vota em "A", imediatamente é tratado como eleitor de "B", sem chance para argumentos de que existem "C" e também "D". Não há conversa!

Muitas mentiras, agora chamadas de "fake news" são espalhadas aos quatro ventos. E, quando essa mentira, reforça uma ideia ou pensamento do divulgador, ele a espalha como se verdade fosse. Isso sem direito a qualquer explicação ou argumentação.

O grupo Globo, de jornalismo, além dos grupos jornalísticos do Estadão, Folha de São Paulo e outros, mais responsáveis, vêm difundindo linhas editoriais específicas para analisar e refutar notícias falsas, tentando driblar ou reduzir a disseminação de fatos inverídicos. Mas parece que nada surte efeito...

Diariamente somos bombardeados via grupos de Whatsapp, redes sociais como Facebook, Twitter e até links de supostos jornais, com fatos criados e que servem no fortalecimento do debate raso, pobre e irreal que domina todas as conversas.

O grande aliado disso tudo, é o tempo escasso, a pouca disposição para a leitura ou aprofundamento nos temas. É mais fácil alimentar-se das notícias vindas em 10 palavras ou duas frases, do que ler artigos ou pesquisar fontes seguras onde o debate ou a explicação está pormenorizada e baseada em boas fontes e na história.

Definitivamente restringirei o meu debate aos temas técnicos, interpretações de normas legais ou difusão de jurisprudências que servem para o dia a dia da vida jurídica. Desisti de debater eleições, de opinar sobre candidatos e partidos. Espero que este quadro mude. Mais do que nunca, sinto-me um analfabeto das circunstâncias e da vida política do país.

Sei que pagarei caro por tal omissão, mas é sempre hora de ficar quieto. O silêncio também fala, o meu, queria que gritasse..... 


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