quarta-feira, 8 de novembro de 2017

CABRAL: UM ANO NA PRISÃO

O ex-governador, ex-deputado e ex-senador Sérgio Cabral, filho de sambista, defensor dos idosos, reeleito governador do seu Estado, completará o primeiro ano dentro da cela. O político foi preso no dia 17 de novembro de 2016. A primeira fase foi vivida em Bangu, presídio que ele mesmo construiu uma parte das instalações e a segunda fase, no antigo BEP (Batalhão Especial Prisional) que foi remodelado para abrigar presos da Lava-Jato e com diploma de curso superior.

Votei nele, junto com milhares de outros fluminenses. Defendi o então governador, enquanto este mereceu a minha confiança, apesar de todas as desconfianças já lançadas na mídia.

Nesse período, um fato muito me intrigava. O ex-governador sempre foi alvo de inúmeras denúncias de seu desafeto, o também ex-governador Garotinho. O ex-prefeito campista atacava-o em seu blog, nas rádios e em palanques. Me chamava atenção o fato de Cabral nunca ter usado a mídia para defender-se ou mostrar outra versão dos fatos.

No trato com a coisa pública, vi Cabral algumas vezes em eventos, não lembro de nunca ter apertado as suas mãos. Mas observava um homem autoritário, que tratava as pessoas, na maioria das vezes, com desdém. Já o vi recebendo prefeitos e vereadores do interior. O ar de superioridade nunca saiu de seu rosto, nem durante a campanha eleitoral, quando os políticos sorriem mais.

O Estado do Rio foi conduzido por Cabral, Picciani e Paulo Melo por um bom tempo, revezando-se na presidência da ALERJ e nos bastidores da política. Eles sucederam o comando que pertenceu ao clã Garotinho e o grupo do PSDB, na época sob a batuta do ex-governador Marcelo Alencar. Aliás, Garotinho era aliado deles.

Pezão surgiu depois, bem depois. O atual governador foi prefeito de Piraí, um pequeno município do interior fluminense, destacou-se, apoiou Cabral, foi aliado de Garotinho e chegou a vice-governador, secretário de Obras do Estado, agora governador.

Recentemente assisti, repetidas vezes, o depoimento de Cabral ao juiz Bretas, da Justiça Federal fluminense. O ar de superioridade não saiu de Cabral. Ele falou com o magistrado do mesmo modo que falava com as pessoas no palácio. Pareceu-me que Cabral sairia da audiência e tomaria um helicóptero até sua mansão em Mangaratiba.

O Cabral presidiário ainda não incorporou as feições do ex-governador. Aliás, parece-me que no presídio ele age como tal, com arrogância e superioridade, principalmente se for verdade a versão que correu na imprensa de Cabral instando seus colegas de presídio a aplaudirem Nuzman, como o "homem que trouxe as Olimpíadas para o Rio". 

Quem viu os filmes e séries envolvendo o megatraficante Pablo Escobar deve ter associado a saudação ao comportamento do colombiano no presídio. Aliás, Escobar também construiu o próprio presídio.

Nem na mais distante ficção Cabral imaginou o seu infortúnio, posso garantir. E ao se comemorar um ano de sua prisão, com a ameaça a muitos de seus antigos aliados, que dormem e acordam sofrendo a pressão do dia que serão presos, temos um Estado do Rio sendo passado a limpo.

Ainda sobre a audiência e do embate Bretas x Cabral, chego até a concordar que a ameça do ex-governador foi bem velada. O veto à transferência de Cabral para um presídio de segurança máxima pode até soar como a decisão mais acertada, como fez crer o Ministro do STF. O problema é que não é só a referência à loja de bijuterias, não é só o embate em audiência, mas um grupo de fatos que se somam e permitem se falar realmente em necessidade premente de se transferir esse preso perigoso.

Há quem diga que Cabral tem um segurança particular, que o acompanha e cumpre atividades que seriam de responsabilidade do ex-chefe do Executivo Estadual. Também consta, contra Cabral, as inúmeras denúncias de ter fabricado, por meio de documento falso, a regularização da entrada de uma mega televisão dentro do presídio onde cumpre pena. Hoje surgiu a denúncia de que Cabral encomendou um dossiê contra o Juiz Federal. Além das notícias de ameças a testemunhas e delatores.

Por tudo isso, a transferência do ex-governador é mais que necessária, mas urgente. E escrevo isso não com o sentimento de ódio no coração, como muitos pregam por aí, pedindo a morte do ex-governador e outras coisas. Faço-o em nome do restabelecimento da segurança judicial e institucional e o respeito ao Poder Judiciário.

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