Esse é o título dado pelo economista Cláudio de Moura Castro
ao artigo publicado na revista Veja dessa semana (3 de abril de 2016), onde, em
apertada síntese, o colunista afirma que os professores públicos são a única
classe que não aceita que se imponha avaliação sobre os resultados do seu
trabalho. E, em segundo plano, propõe as formas de avaliação que seriam
utilizadas no magistério público.
Primeiro, nunca ouvi falar de qualquer resistência, por
parte do magistério, quanto aos inúmeros programas de avaliação dos resultados
da educação. Pesquisando agora, após o texto de Castro, também nada encontrei.
Ao contrário, os professores são participativos, nas escolas, na aplicação das
chamadas provas de avaliação. Nem os sindicatos da classe manifestam-se contra
a realização das avaliações, que acontecem nos três níveis, municipal, Estadual
e Federal.
Segundo, o articulista da revista Veja afirma que não
existem avaliações no Brasil do ensino público. Outro equívoco. Existem hoje,
em pleno funcionamento, além do ENEM (desde o ano de 1998), inúmeros sistemas
de avaliação do ensino nos Estados. Em pesquisa aleatória, identificamos
sistemas funcionando no Estado do Acre (SEAP, desde 2009), Minas Gerais
(SIMAVE, desde 2000), São Paulo (SARESP, desde 2002), Rio de Janeiro (SAERJ,
desde 2008), Bahia (SABE, desde 2007) e Rio Grande do Sul (SEAP, desde 2009).
Muito provavelmente outros entes federados dispõem de sistemas semelhantes.
É de se saber que esses sistemas são concorrentes, em vários
aspectos, do próprio ENEM, ou seja, os educandos são avaliados duplamente.
Obviamente que tais sistemas avaliam diretamente o trabalho dos professores,
que são uma parte importante do ensino público.
Terceiro, o país, ao querer avaliar os resultados da
educação, deveria, antes de tudo, pesando sobremaneira a carga no professor,
que, no final é o único levado em consideração, ater-se a outros aspectos, tais
como, material didático utilizado no ensino público, treinamento e preparação pedagógica
e técnica dos docentes, inclusive com amplo acesso à modernização do ensino,
aspectos físicos das escolas, incluindo acesso à internet e a equipamentos de
informática de qualidade, atualizados. E, obviamente, aspectos físicos das
escolas, tais como, iluminação, saneamento, acesso a água tratada e prédios em
condições mínimas de habitabilidade.
Avaliar o professor pelo desempenho do aluno sem considerar
esses aspectos mínimos, é desrespeitar o magistério, avacalhar a educação e
tratar a educação como de somenos importância das políticas públicas do país.
Isso para deixarmos de lado os aspectos como péssima
remuneração, falta de segurança, falta de apoio pedagógico e até falta de giz.
Em pesquisa junto aos sites especializados e os próprios números
divulgados pelo Governo no chamado Censo Escolar, que avalia também a educação
pública, temos alguns dados interessantes. Vejamos. Em 2003, 35 mil escolas
públicas brasileiras não recebiam fornecimento de energia elétrica. Isso mesmo,
alunos assistiam “aulas” no escuro. Não estou falando do século passado, nem do
tempo da carochinha, mas de 2003. Em 2010 esse número caiu para 13.134 escolas
sem energia elétrica, atingindo 429.805 alunos. Ou seja, meio milhão de alunos
assistem aulas sem conseguir enxergar o que está sendo passado no quadro. Isso
quando existem quadros.
Em 2014, ou seja, ali atrás mesmo, 8 mil escolas funcionavam
sem energia elétrica no Brasil. Na pesquisa cheguei a ler a comparação. O
Brasil consegue instalar uma agência da Caixa Econômica Federal em cada cidade,
mas não consegue ligar energia elétrica nas escolas públicas.
Quando o assunto é internet a situação piora bem, pois 60%
das escolas públicas não dispõem de internet para utilização no seu dia-a-dia.
São 151 mil unidades escolares sem acesso à rede mundial de computadores.
Quer saber do saneamento básico em 2014 nas escolas? Pois
bem, apenas 40, 73 % das escolas públicas brasileiras dispõem de uma rede de
saneamento ativa. E 38% não têm abastecimento de água da rede pública, que
significa água tratada.
O economista quer avaliar professores de escolas que não
dispõem de laboratório de ciência em 90% das unidades escolares. No mínimo é um
contrassenso. Os professores da área de ciência e biologia seriam crucificados
já no primeiro dia.
Em recente artigo nosso sobre a educação do maior Estado da
nossa federação, São Paulo, temos que eles têm um piso salarial para os seus
professores, de R$ 1.894,12, comparando com o Distrito Federal, o maior Estado
perde feio, pois o Distrito Federal, um pequeno Estado (tem o 7º lugar no PIB),
paga, aos seus profissionais, R$ 2.260,08.
Além do desestímulo salarial, o professor enfrenta, em todos
as escolas, problemas com violência, ameaça de alunos, intervenção do tráfico
de drogas, das gangues, das milícias, que chegam a interromper aulas em dias
determinados, além dos problemas de trânsito, transporte coletivo de péssima
qualidade e a necessidade, haja vista o baixo salário, de acúmulo de cargos
e/ou a situação vexatória de ter que ocupar-se em outras atividades econômicas
como vender produtos por catálogo, comercializar salgadinhos, quentinhas e
doces, visando complementar a renda escolar.
Avaliações são sempre bem-vindas, emérito dirigente do
Sistema Pitágoras, Dr. Cláudio, um dos maiores complexos educacionais da rede
particular do país, mas ele deve ser seguido de melhoria ou oferta de condições
reais de trabalho. Sem energia, sem internet, sem acesso a bons treinamentos e
oferta de cursos de aperfeiçoamento, é impossível falarmos num ensino de
primeiro mundo.
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