O Governo Federal apresentou uma medida provisória fixando
parâmetros que modificam o sistema educacional brasileiro. À primeira vista, o
susto. Assustou-se porque o projeto veio por meio de uma medida provisória,
assustou-se porque os professores pensaram logo no aumento da carga horária. Os
Estados assustaram porque o gasto com a educação iria, consequentemente,
aumentar muito.
O Sindicato dos Professores de São Paulo bradou sobre a
medida provisória: “O uso da medida provisória faz a proposta ilegítima”.
Os brados foram uníssonos nesse sentido, ou seja, o governo
não apresentou o projeto para discussão da sociedade, em especial,aos
especialistas da área. Esse tornou-se o ponto principal das críticas mais
lúcidas, pois o resto que se viu é a politização do debate, que é tão sério
para o país.
Esquecem tais atores, data vênia, que a situação da educação
pública brasileira é calamitosa. Não há condições de ensino no atual regime.
Trago aqui uma frase do grande professor Paulo Freire:
“Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos”.
O que o Brasil menos precisa hoje é de não fazer nada na
área da educação. O que temos em andamento é muito ruim por vários motivos. As
discussões sobre educação nos últimos anos foram sobre o fechamento de escolas
no Estado de São Paulo, os desvios de recursos que deveriam ser destinados à
merenda escolar e o slogan do PT, que não passou disso, ou seja, ficou no
discurso, pois Dilma não fez nada na área da educação.
Que seja precipitado, que seja autoritário o uso da medida
provisória, que o assunto tenha sido lançado sem discussão, o que não é
verdade, vez que existe uma consulta pública aberta há vários meses no site do
Ministério, que o governo não seja legítimo, o que também não é verdade e
tantas outras críticas que possam aparecer, o silêncio é pior.
Ficar calado e não ter o que criticar e o que debater, no
meu entendimento, é o aceitar o caos em nossas vidas e nas vidas de nossos
filhos.
Os resultados das avaliações aplicadas aos alunos
brasileiros são as piores possíveis e isso é muito ruim para o país.
Alunos chegam ao ENEM sem saber ler.
De acordo com reportagem do jornal O Globo sobre as redações
do ENEM, especialmente aquelas que ganharam nota máxima, os textos continham
erros de ortografia, como "rasoavel", "enchergar" e
"trousse". Isso na análise das melhores redações.A matéria ainda diz
que os textos recebidos tinham problemas de acentuação em palavras como indivíduo,
saúde, geográfica e necessário, além de algumas frases não terem ponto final.Na
disciplina matemática a coisa não fica muito longe. São erros terríveis,
relatam os especialistas.
Tanto é verdade que o país tem notas baixas em avaliações
locais (do MEC e dos Estados) e em avaliações internacionais, como o PISA
(sigla inglesa para Programa Internacional de Avaliação de Alunos). O Brasil
ocupa a 60º posição, de um total de 76 países avaliados.
Segundo reportagem do site da BBC, uma conclusão dos maiores
especialistas do mundo determina que “o sucesso em sistemas educacionais não
depende mais de quanto dinheiro é gasto e, sim, de como o dinheiro é gasto”.
Para essa conclusão são considerados os resultados do PISA.
Outra conclusão que a reportagem aponta é de que “sistemas
educacionais não seletivos, que oferecem um mesmo programa de ensino para todos
os estudantes, são a opção mais justa e igualitária. E que sistemas onde alunos
aparentemente mais inteligentes são selecionados para frequentar escolas com
programas diferenciados oferecem melhor qualidade e excelência de resultados”.
Diante desse caos, repito, não discutir, não propor, é o
pior dos caminhos. O que resta discutir é como propor, como debater?
Não há dúvidas que o melhor local para discussão não é a
sala fechada do Ministério, nem os gabinetes palacianos, mas as ruas, o
Congresso Nacional, a imprensa, os educadores por meio de suas entidades de
classe e inúmeras representações. E a temporada do debate está aberta. O
governo de plantão é suficientemente maduro para mudar a medida proposta, tanto
que já o fez agora e outras ocasiões. Ninguém vai insistir no erro.
O silêncio não é resposta para a situação calamitosa. Nem a
discussão sectária, gregária e maniqueísta. Os partidos políticos nos
representam, detém nossa procuração para a representação popular, devem partir
deles o debate.
Que venham debates “pré-conceituosos”, mas que venham!
Esse debate deve produzir, por fim, uma escola acolhedora
para alunos e profissionais que lá trabalham, um programa mínimo e direcionado
aos alvos da educação, tais como o português e a matemática e uma língua
estrangeira, tão necessária num mundo globalizado.
O debate também deve ser propositivo, buscando aliar a
educação tradicional e os avanços tecnológicos, fixar metas para a
“internetização” do ensino, com aulas assistidas em casa, por meio dos inúmeros
sistemas já em uso corrente nas universidades, no que se chama de ensino à
distância.
Como diz a música de Milton Nascimento, “todo artista tem
que ir onde o povo está”. Onde nossos alunos estão? Nas redes sociais e nos
canais do Youtube. Vamos levar a educação para esses ambientes. Uma educação
convidativa, participativa, onde o aluno seja, realmente, o ator principal e
não o coadjuvante.
Nesse debate a comunidade precisa se fazer presente, os
conselhos municipais precisam fortalecer-se. Os gastos devem ser avaliados
novamente, traçando-se novos parâmetros e impedindo os desvios. Os sistemas e
softwares precisam ser aliados, com participação de toda a comunidade, tanto a
acadêmica, quanto as classes trabalhadoras.
Que tal começarmos o debate aqui, agora?
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