quinta-feira, 11 de maio de 2017

"NÃO SOU A BOCA PARA ESSES OUVIDOS" - José Souto Tostes

"Eles não me entendem: não sou a boca para esses ouvidos". A frase é do filósofo alemão Friedrich Nietzshe, constante do livro "Assim falava Zaratrusta". Ela ilustra muito bem o momento vivido na política brasileira. E digo por mim. Hoje eu não sou a companhia ideal para quem, com referência a tudo e todos que envolvem política, já dispõem de um lado pré-definido. 

Nota-se, bem objetivamente, que antes de Lula depor na Justiça Federal, na primeira fase de um inquérito, essas pessoas que comentam o depoimento hoje, já o condenavam.

A radicalidade, a agressividade, a acidez dos pensamentos esposados hoje nas redes sociais, demonstram muito bem isso.

A coisa é tão feia, que como diz o filósofo, eu digo, "não sou a boca para" esses ouvidos. Depois de passar mais de 5 horas vendo e ouvindo a gravação do interrogatório dado ao eminente juiz Sergio Moro, não notei nas perguntas, nem nas respostas, qualquer ato que possa ensejar a condenação do ex-presidente.

Na verdade, pra resumir o que penso, o Lula de ontem não foi o Lula que deu depoimento em Brasília. Ontem ele comportou-se de forma muito diferente. Não se expôs como no primeiro depoimento, com assunto bem diverso desse. O Lula depoente em Brasília fez bravatas, desafios e respondeu o que não lhe perguntaram. Mas o Lula de Curitiba agiu com desenvoltura, estava muito mais equilibrado, diferente do discurso de palanque que fez na capital Federal.

O depoimento de ontem não mostrou um Lula entregue aos braços da prisão, mas um Lula ciente de que cometeu erros e pede pena concernente com o que praticou. Não há uma única contradição no que ele disse.

De tudo que aconteceu ontem, faria uma única observação: o jatinho foi um exagero, tendo em vista a declaração dele de que seus rendimentos são de assalariado. Quem ganha o que ele ganha não tem como pagar um jatinho daqueles, com a mordomia que assistimos. Se o PT pagou, cometeu erro, pois os recursos partidários não podem ser destinados a tal fim.

Pensei e repensei muito em escrever o que agora escrevo, pois certamente serei alvo dos mais ácidos comentários, originários de pessoas que não viram o depoimento, não analisaram o que estão publicando nas redes sociais a esmo, sem pensar.

Eu garanto que pensei e repensei cada linha aqui escrita, conversei com pessoas nas ruas, com colegas e amigos de confiança. Quanto ao jatinho, a resposta obtida foi que era necessário para garantir a segurança dele e da população, pois se usasse um avião de linha poderia gerar enorme tumulto.

Sei que dirão que estou defendendo Lula, mas quem me conhece e já leu algum comentário anterior, poderá ver que não é esse o fato. Aliás, por já ter dado opiniões contrária aos interesses do PT, que considero este depoimento livre de qualquer mácula ou preconceito. Apenas estou escrevendo o que vi e ouvi.

Burro e condenável é a intolerância, o julgamento precipitado, sem análise, sem reflexão e, na maioria dos casos, sem sequer entender o que foi perguntado e o que foi dito. Talvez os autos falem mais que Lula e lá contenham provas contundentes contra o ex-presidente. Mas tomando por base só o depoimento, não vejo motivo para condená-lo nesse processo...

Burro é esse dualismo, esse muro que temos construído entre os que são contra e o que são "a favor" do PT ou da "esquerda".

Se minha boca não é para o seu ouvido, posso apenas me desculpar.....

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